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Semana de Vela de Ilhabela - Foto: Divulgação

A emoção de uma regata na Semana de Vela de Ilhabela

Pouco vento, longa espera e muita emoção na Semana de Vela de Ilhabela. Centenas de barcos, espalhados por todos os lados, seguiam navegando. Que legal ver o entusiasmo da tripulação do Hohzoni caçando e trabalhando nas manobras. O percurso traçado por nosso capitão era de 60 milhas desde a largada até contornar a ilha de Alcatrazes e voltar. Leia o relato aqui.

Texto: Adriana Fernandes


Publicado originalmente em 15 de julho de 2000

Início da Regata

Ilhabela, sábado, manhã de muito sol na capital da vela, um dia que certamente ficará marcado na minha memória durante toda a vida! Este foi o dia que tive minha primeira experiência em uma regata. Cheguei no YCI – Yatch Club Ilhabela umas 8 horas e fui direto ao setor de credenciamento retirar os crachás de imprensa e velejadora, para ter acesso total às dependências do evento (27ª Semana da Vela da Ilhabela).

O encontro com o pessoal da BL3, a empresa que nos convidou para o evento e maior escola de iatismo da Ilhabela, estava marcado para as 9 horas e foi no YCI que encontrei cada um dos tripulantes que passariam horas ao meu lado. Umas 10h30, o comandante da nossa aventura Paulo Rodrigues, mais conhecido como “Pêra”, sugeriu que fôssemos ao Píer onde o veleiro estava ancorado. Foi aí que visualizei o barco que nos levaria à Regata com destino a Ilha de Alcatrazes. O nome? Hohzoni, um veleiro que recentemente participou da Regata do Descobrimento/ Brasil 500 anos e que tem patrocínio da TAM.

Todos a bordo, nosso comandante iniciou algumas explicações como rota, apresentação da tripulação, significados de termos mais utilizados na navegação e sugeriu que iniciássemos um “aquecimento” passando pelos veleiros ali reunidos. Mais de 127 barcos na raia velejavam de um lado para o outro, em um visual inesquecível.

Todas as feras da vela estavam reunidas ali, passávamos ao lado de “máquinas” de nomes como Amyr Klink, com o Paratii, Família Schurmann, com o Aysso, Torben Grael, com o Magia, entre outros.

Uma fragata da Marinha fazia a comissão de regata e estava ancorada no meio do canal.
Paratii durante a regata

Como a Regata era válida para três categorias: IMS, RGS e Bico de Proa, a cada saída a fragata disparava um tiro de canhão. No terceiro BOOOOOM, foi a vez do Hohzoni e outros barcos de sua categoria navegar rumo a Alcatrazes

O Veleiro Hozhoni

Em primeiro lugar: porque Hozhoni? Segundo os moradores da embarcação, um dia, quando o Marcelo ainda nem tinha o barco, estava lendo um livro de inglês gostou do significado da palavra que leu e aguardou para si a mensagem.
HOZHONI QUER DIZER: união das forças da natureza com o pensamento sadio do homem e é uma palavra de uma tribo de índios que habitava o Grand Canyon.

Ficha Técnica: HOZHONI
Comprimento: 16 mts (52 pés)

Calado: 1,10 m sem a quilha (recolhida) e 3,10 m com a quilha
Boca: 4,50 mts
Peso: 18 t
Área vélica: 110 m2
Motor: MTU 170 hp
Água: 600 l
Combustível: 1110 l (diesel)
Projetista: Thierry Stump
Características: 2 lemes e quilha retrátil

Equipamentos – Para velejar é preciso de muito vento, uma bússola, um sextante ou GPS e o respeito pelo mar. Mas, para uma navegação transoceânica, existem alguns equipamentos que ajudam a tornar a viagem mais segura. Os equipamentos de navegação e de comunicação no Hohzoni são os seguintes:

  • Indicadores de direção e intensidade do vento, velocidade do barco, distância percorrida e profundidade.
  • Um sistema de navegação GPS interligado ao radar.
  • Piloto automático.
  • Rádio VHF – indicado para curtas distâncias (cerca de 25 milhas).
  • Rádio SSB – ideal para longas distâncias, alcança vários países e é muito utilizado em travessias.

Alimentação

Para a regata o Hozhoni estava abastecido com frutas, sanduíches naturais, sucos, barras energéticas, brownies. A alimentação bastante natural é de acordo com seus proprietários, Marcelo e Alessandra, que são vegetarianos. Durante a madrugada a Alê preparou uma deliciosa sopa para animar e esquentar a turma!!!

A tripulação

No total foram 7 tripulantes que participaram da regata à bordo do Hohzoni:

Adriana Fernandes – (eu) jornalista, pratico bodyboarding e natação. Tenho fascinação por esportes aquáticos e pela primeira vez participei de uma regata. Senti medo, frio, enjoo, mas queria estar até agora vivendo a inesquecível aventura. A experiência foi tão marcante que já estou aguardando o próximo convite da galera.

Maurício de Moura – triatleta e fotógrafo. Morou em Ubatuba durante 10 anos aonde treinava para as competições, atualmente mora em São Paulo e treina todos os dias. Adora correr em trilhas e especialmente subir o “Morro do Deus me Livre”, em Trindade – RJ correndo (o moço não é fraco não!). Assim como eu foi a primeira vez que ele velejou. Segundo o IronMan: “tirando o enjôo eu amei esta experiência”.

Paulo Rodrigues – proprietário da escola de iatismo BL3 e comandante da regata. Partiu dele e do seu irmão, Pedro Rodrigues, o convite para cobrirmos a Semana da Vela. Já participou de várias regatas como a Santos/Rio e regatas Paulistas, Brasileiras e até Mundiais, as quais acumula muitas vitórias. Iniciou no esporte pois sua irmã namorava um velejador e ele era obrigado a “tomar conta” da garota. Pêra gostou tanto que hoje está à frente de uma das principais escolas de iatismo do Brasil. Durante a regata deu uma verdadeira aula a todos os tripulantes. Era o mais animado e sempre incentivava a galera sugerindo uma sopinha no meio da madrugada ou uma trilha sonora; que por sinal o maravilhoso CD Unplugged, do Gilberto Gil, quase furou de tanto tocar.

Leonardo Wach – velejador desde os 6 anos de idade, voltou ao Brasil há duas semanas, pois estava morando na Alemanha com seus pais há mais de 10 anos. Mostrou durante todo o percurso bastante afinidade com o esporte. Sua dica é: “nunca podemos esquecer de levar um bom equipamento como roupas à prova de tempestade, botas de borracha e luvas, pois quando você sai o tempo pode estar maravilhoso, mas nunca sabemos o que encontraremos pela frente”. Seu sonho é conhecer a Indonésia.

Marcelo Jaensch – proprietário do Hohzoni, ele ajudou na construção do barco que levou 4 anos e meio para ficar pronto. Participou da Regata Brasil 500 anos e levou 12 dias de Portugal ao Brasil. Mora no barco juntamente com sua namorada (Alê) e atualmente estão ancorados em Paraty/RJ, onde levam os turistas para passeios nas ilhas da cidade. Pretendem ficar lá até começo do ano e têm planos de dar a volta ao mundo no ano que vem.

Alessandra Costa – a namorada do Marcelo. Foi uma das pessoas que mais me informou durante a viagem. Enquanto nossos velejadores faziam as manobras para dar rumo ao veleiro, a “dona do barco” (apelido dado carinhosamente pelo Pêra) sugeria que deitássemos um pouco para passar a tontura, trazia-nos lanches, sucos, respondia as mil perguntas por segundo que fazíamos a ela e sempre estava sorrindo. Em breve veremos Alê dando a volta ao mundo a bordo do Hohzoni.

Valdo Pires – lancheiro e frequentador da Ilhabela há 15 anos. Também foi marinheiro de primeira viagem na regata. Fez o curso de vela oceânica com o pessoal da BL3 em janeiro deste ano. Mostrou-se muito interessado em aprender mais sobre o tema e deu uma grande força para o Pêra nos momentos de adrenalina.

A Experiência

Pouco vento, longa espera e muita emoção. Centenas de barcos, espalhados por todos os lados, seguiam navegando. Que legal ver o entusiasmo da tripulação do Hohzoni caçando e trabalhando nas manobras. O percurso traçado por nosso capitão era de 60 milhas desde a largada até contornar a ilha de Alcatrazes e voltar.

Velejamos de um lado para outro, mas de repente o tempo começou a fechar e o vento foi morrendo até chegar a 6 nós.
A partir daí o percurso oscilava entre rajadas de vento e nenhum vento, quando o vento parava era o momento que eu mais temia pois não tinha como conter a tontura e o enjôo -urght!!! Ao entardecer, o tempo foi ficando cada vez mais frio e uma garoa fina tomou conta do oceano. Durante toda a noite passamos por muitos veleiros (quer dizer, por muitas luzinhas, pois na escuridão do oceano só enxergávamos sombras).

Rondamos a ilha, que a essa altura também só vimos uma grande sombra, por volta da 1 hora da manhã (o previsto era chegar a Ilha às 18 hs) e aí iniciamos a velejada de volta à Ilhabela. Ao amanhecer, por volta de 7 horas da manhã, chegamos de volta ao clube, debaixo de chuva forte, todos cansados, molhados, gelados mas muito felizes. Todos se cumprimentaram e comemoraram a inesquecível velejada!

Palavra Final

Veleiros de todo tipo estavam presentes, desde os de cruzeiro, às máquinas de regata e os barcos da Escola Naval. Uma confraternização de muitos velejadores, todos desejando “Boa Regata! Bons ventos!”. Este momento mágico é que tornava a aventura mais especial. Durante todo o tempo observava as pessoas do nosso e dos outros barcos sorrindo e incentivando a integração, ponto fundamental em um esporte como este. Para as pessoas que tornaram essas minhas 20 horas super especiais só tenho a agradecer. Parabéns a todos os tripulantes do Hohzoni. Foi maravilhoso correr a regata com vocês!
Veleiro Aysso – Família Shurmann na regata
Agradecimentos especiais

Paulo e Pedro Rodrigues – pelo convite e presteza
À tripulação sensacional do Hozhoni – Alê, Marcelo, Valdo, Léo e Má
Marcio Farid Yamin da Pousada Montemar pela sensacional recepção
Doro e Paulo da ZDL – pela freqüência de notícias
E, é claro, ao vento que surgiu às 6 horas da manhã no Canal de São Sebastião permitindo que completássemos a prova!

Mapa da localização