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Catedral - Ulm - Alemanha

Pedalando às Margens do Rio Danúbio

Pensando em viajar de bicicleta? A Alemanha é uma excelente opção, com ciclovias na maior parte do país!

A Ideia e o Início da Viagem

Foi acompanhando o blog de um amigo, que Marici Slavec, 42, conheceu os caminhos do cicloturismo às margens do Rio Danúbio. Com pouco mais de 2.800 km de extensão, é o segundo maior rio da Europa, depois do Rio Volga, e foi eternamente consagrado na valsa do compositor Strauss.

Nesta série de reportagens, dividida em sete partes, apresentamos a viagem completa realizada por Marici, com dicas e informações importantes para aqueles que desejam planejar uma aventura por uma das mais belas rotas do cicloturismo internacional.

Ela usou suas férias na Biblioteca do Centro Cultural de São Paulo para percorrer de bicicleta o trecho que vai desde a nascente do rio, em Donauesching, na região da Floresta Negra, Alemanha, até Linz, na Áustria, completando 576 km. E como desta vez o marido não pôde acompanhar a aventura, ela fez tudo isso sozinha, mesmo. “Quase sempre me perguntavam qual era meu objetivo com essa viagem. Eu respondia que era vivenciar a língua e cultura alemã- austríaca, além de aprender um pouco mais de história, passando pelas cidades, desfrutar a natureza e paisagens e, naturalmente, passear de bicicleta!”, comenta Marici sobre a sua viagem.

Chegando a Munique, a primeira coisa que fez foi comprar uma bicicleta, que a acompanharia durante todo o percurso. Sua intenção era de comprar uma nova e revendê-la na mesma loja antes de voltar para São Paulo, já que a loja escolhida vende tanto bicicletas novas quanto usadas. Entretanto, a primeira surpresa foi descobrir que a Radl Bauer só compra as bicicletas usadas como parte do pagamento de uma nova. Assim, a melhor opção foi comprar uma magrela nova e embarcar com ela de volta para o Brasil no final da viagem, o que custou 150 Euros de taxa, mas o processo foi simples e prático e ela nem precisou embalar a bicicleta, apenas protegeu a luz dianteira, que é muito delicada.

Em Munique e na maioria das cidades da Alemanha, uma opção mais em conta de acomodação são os Albergues da Juventude, onde se gasta em geral cerca de 20 Euros por noite, em quarto coletivo. Ao longo do Danúbio, as opções de Gasthaus, hospedarias tradicionais, em cidades pequenas custam bem mais em conta do que nas cidades grandes.

O transporte público em Munique é muito bem organizado e o Tagesticket, bilhete que vale para metrô, trem e ônibus, custa 5,20 Euros para um dia inteiro. Mas, é possível gastar menos do que isso, dependendo das áreas em que se pretende passear. Verifique sempre os mapas explicativos, em todas as estações.

Rumo à Floresta Negra

O Rio Danúbio, ou Donau, em alemão, nasce na Floresta Negra. Para chegar lá, Marici pegou um trem em Munique, com destino a Hornberg. Há um vagão especial para viajar de bicicleta nos trens, mas é necessário um bilhete especial, além de reserva antecipada, que pode ser feita diretamente nos guichês da Die Bahn – DB nas estações, ou através do site da companhia de trens. Para este trecho o valor foi de 47,50 Euros e Marici fez a reserva com dois meses de antecedência.

A fonte do Rio Danúbio fica em Donaueschingen, mas antes de ir até lá, vale a pena passar pimeiro no Freilichtmuseum, na Floresta Negra, onde casas de mais de 400 anos estão conservadas como naquela época. Para chegar lá, são 8 km pedalando desde Hornberg.

O bolo “Floresta Negra”, ou Kirschentorte como eles dizem por lá, é muito saboroso e diferente das variações que encontramos no Brasil. O original é feito de cerejas em compota natural e licor de cereja. O relógio famoso relógio “Cuco” também foi inventado na Floresta Negra, imitando o pássaro que vive cantarolando por lá e que, segundo a tradição, traz sorte àqueles que o escutam.

Voltando a Hornberg, Marici seguiu viagem de trem até Donaueschingen, trecho que custa mais 10,50 Euros. Uma dica de hospedagem aqui é o Hotel Ochsen, com boa localização. Uma dica para as viagens é levar um aparelho de celular desbloqueado e comprar um chip pré-pago quando chegar ao país de destino. Ao se aproximar das cidades onde pretende pernoitar, basta ligar nos hotéis ou pousadas para verificar disponibilidade de quarto livre.

O Donau-radweg ou Ciclovia do Danúbio

É em Donaueschingen que começa o Donau-radweg (Donau=Danúbio; Rad=bicicleta; Weg=caminho), ou Ciclovia do Danúbio, cujo percurso total é de 2.875 km, passando por nove países europeus, e terminando no Mar Negro. Esta via é parte da EuroVelo-Route EV6, ciclovia ao longo de rios, que cruza a Europa desde o Atlântico até o Mar Negro.

Um mapa das trilhas e das regiões, com localização das cidades, é essencial para o planejamento da viagem, pois é comum as indicações das ciclovias desaparecerem quando se entra nas cidades. Além do mapa, não tenha vergonha de perguntar para as pessoas, pois mesmo sem falar o idioma alemão, é possível conseguir informações de direção!

Viajando sozinha, Marici teve a oportunidade de conhecer muitos ciclistas e em vários dias do percurso, esteve pedalando junto com outras pessoas, principalmente alemães, que muitas vezes já conheciam os caminhos e atalhos da rota. “Apesar de ser uma mulher viajando sozinha, em todos esses 22 dias, nunca tive nenhuma espécie de problema ou alguma abordagem inconveniente. Ao contrário da imagem que temos dos alemães dos filmes da 2ª Guerra Mundial, eles são muito educados e prestativos e fiz algumas amizades ao longo do caminho.”, comenta. Em certa ocasião, teve ajuda para consertar a marcha da bicicleta ou um pneu furado, em outra ao indagar sobre algum lugar para comprar frutas e sucos, ganhou algumas, pois era domingo e tudo estava fechado. Por isso, uma dica importante para quem viajar pelas cidades menores da Europa é que as lojas, nem mesmo as padarias ou conveniências, não abrem aos domingos. Assim, faça sempre um bom planejamento de compras, tanto de frutas e sanduíches, quanto de bebidas, no sábado até as 13horas.

No primeiro dia, depois de seis horas de viagem, das quais cerca de 4h40 pedalando, chega-se a Hausen, onde uma opção de hospedagem é a Gasthaus Mühle, cuja diária custa 25 Euros e a proprietária é muito simpática.

De Hausen até Munderkingen são 80 km, que Marici percorreu sem pressa no dia seguinte. Junho é a época de reprodução das cegonhas e, ao passar pela cidade de Mengel, aproveitou para fotografar e filmar algumas delas, aconchegadas nas chaminés e torres mais altas.

Em Munderkingen, seguiu viagem de trem até Ulm, percorrendo mais 40 km. Mais uma dica para os viajantes de bicicleta é lembrar de tirar a bagagem da mesma na plataforma, para diminuir o peso da bike, pois dependendo do trem, há degraus para subir no vagão e nem sempre é fácil carregar bicicleta mais o peso da bagagem no tempo que o trem fica parado.

Ulm, a Cidade-natal de Albert Einstein

Situada na margem direita do Rio Danúbio, Ulm é uma cidade que remonta ao ano de 854, já bem maior, com pouco mais de 120.000 habitantes e visitação turística intensa. Por isso, é aconselhável fazer uma reserva antecipada de hospedagem.

Foi em Ulm que nasceu Albert Einstein, um dos gênios do século XX. A catedral de Ulm, ou Ulmer Münster, cuja pedra fundamental foi lançada em 1377, mas finalizada somente em 1890, foi construída em estilo gótico e é o símbolo da cidade. Com 161,53 metros, é a mais alta torre de igreja do mundo.

A saída pela Donau-radweg em Ulm é bastante confusa e muitos ciclistas se perdem no caminho. Entretanto, margeando o Rio Danúbio, pedalando por uma área de proteção ambiental, o viajante encontra novamente a trilha após uns 20 km. A placa da trilha, a partir de Ulm, é amarela e indica Donau-radwanderweg, significando que além de bicicletas o caminho permite atividades de caminhada ou trekking.

Percorridos 72 km desde Ulm, chega-se a Höchstädt, uma típica e tranquila vila alemã, onde a as pessoas passeiam de bicicleta e andam pelas ruas como se todo dia fosse domingo. A dica de hospedagem é o Hotel Berg, que tem uma pizzaria embaixo, custa 45 Euros e a noite apresenta uma sinfonia de sapos, que são de estimação do dono do hotel.

Seguindo viagem para Donauwörth, são apenas 32 km de caminho tranquilo, onde Marici avistou inclusive um genuíno pastor de ovelhas e seu rebanho. “Donauwörth é o paraíso do cicloturista”, descreve ela animada. Dessa cidade saem três caminhos diferentes, a Rota Romântica, a Via Claudia Augusta e o Caminho do Danúbio.

A Rota Romântica

Saindo um pouco do caminho, Marici seguiu detrem até Rothenburg, voltando de bicicleta pela Rota Romântica. Para quem gosta da atmosfera da Idade Média, a cidade de Rothenburg é uma verdadeira viagem no tempo. Essa cidade tem suas origens no século XII, mas o maior desenvolvimento ocorreu no século XV. A cidade é toda cercada por uma muralha e no centro antigo há lojas de brinquedos e enfeites de Natal, tradicionais da região. Visitar os museus é uma magnífica aula de história.

Ainda na Rota Romântica, saindo de Rothenburg, Marici pedalou 76 km, até Dinkelsbühl. “Este foi o dia mais difícil. Eu iniciei o trajeto às 14 horas, pensando que eram uns 50 km, mas na verdade eu pedalei 76 km com predominância de subidas e só encontrei uma ciclista para me acompanhar e motivar no final do trajeto. Cheguei ao destino às 21 horas.”

Essa parte do caminho é um pouco confusa, então é preciso prestar mais atenção às placas e perguntar, no caso de dúvidas. No trecho depois de Feichtwangen havia uma placa, indicando que o percurso fora modificado, ficando mais longo, para que o ciclista pudesse aproveitar melhor as atrações do caminho.

Em Dinkelsbühl, uma excelente opção de hospedagem é o Hotel Palmengarten Garni, com diária de 52 Euros. Na cidade não há estação de trem, então para seguir viagem, só pedalando ou pegando um ônibus para Donauwörth, que deve ser reservado com três dias de antecedência para poder levar a bicicleta. Entretanto, no centro de informações, conseguiu um número de telefone da empresa de ônibus e, ao ligar para perguntar, foi informada que poderia embarcar no mesmo dia.

Depois de um sorvete merecido em Donauwörth, Marici seguiu pedalando até Neuburg, trecho de 40 km com subidas mais leves. A dica de hospedagem em Neuburg é um hotel na mesma praça do restaurante italiano, chamado Garni.

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Neuburg

De Volta ao Caminho do Danúbio

Ao tomar o café da manhã em Neuburg, Marici deparou com quatro simpáticos senhores alemães que também estavam fazendo uma cicloviagem e, após uma breve conversa, perguntou se poderia acompanhá-los até Ingolstadt. Foi prontamente aceita pelo grupo, que tomou um caminho diferente do Donau-radweg oficial, margeando o Rio Danúbio. Além de ser mais curto, é também mais bonito, pois o caminho oficial passa por campos abertos e distantes do Danúbio.

Em Ingolstadt, após um rápido giro pela cidade, para ganhar tempo seguiu de trem para Regensburg, cidade que no passado abrigou um acampamento de legiões romanas. Depois do ano de 843, passou a ser sede de Ludovico II, o Germânico. Na Idade Média destacou-se como importante centro comercial e cultural do sul da Alemanha. Mais um trem a levou até Straubing, cidade-mercado por onde passava uma antiga estrada que levava à Praga, onde passou a noite.

No dia seguinte, novamente para ganhar tempo, seguiu de trem para Deggendorf, a 30 km de Straubing. Nessa cidade, ao procurar pela Ciclovia do Danúbio, encontrou mais um casal e duas jovens senhoras que já se diziam avós e que estavam viajando de bicicleta por mais de 500 km desde a sua cidade. Todos então passaram a procurar juntos pela ciclovia e Marici acabou pedalando junto com as duas senhoras até Passau, seu destino final, com direito a parada para almoço em um Biergarten que foi instalado na beira do caminho, pois era domingo.

Passau remonta ao período romano e situa-se numa península entre os rios Danúbio e Inn, perto da fronteira com a Áustria. Grande parte da cidade foi destruída por incêndios entre 1662 e 1680 a artistas italianos trabalharam na reconstrução, o que conferiu a Passau fachadas em estilos barroco, rococó e neoclássico.

É em Passau que os rios Danúbio e Inn se encontram, além de ser ponto de partida, parada e chegada para vários passeios de barco pelo Danúbio. De lá, por exemplo, é possível fazer um cruzeiro até Budapeste ou Viena. Uma dica de hospedagem às margens do Danúbio é o Rotel Inn, com diárias a 36 Euros e quartos semelhantes a uma cabine de navio.

De Passau, Marici percorreu mais 100 km, cruzando a fronteira com a Áustria, até chegar em Linz. Segundo ela, “apesar da distância, esse trecho foi bem menos cansativo do que os 76 km da Rota Romântica, com predominância de subidas”.

No início deste trecho, apesar da ciclovia margear o Rio Danúbio, ela está sempre ao lado da auto-estrada, decepcionando um pouco o viajante que procura se afastar do movimento das grandes estradas. Entretanto, cerca de 20 km a frente, no “Schuligen”, ou onde o rio faz várias curvas, pode-se pegar um barco e atravessar para a outra margem, onde a ciclovia segue muito bonita novamente.

Enquanto se aguarda o horário da travessia do barco, vale uma parada para lanche na Bauerhof Zur Fährfrau, um sítio onde as pessoas podem se hospedar por 22 Euros e tomar leite fresco de vaca no café da manhã. Seguindo caminho pela margem oposta do rio, atravessa-se a fronteira entre Alemanha e Áustria e “adeus à Bavária!”.

Chegando em Linz, para os vegetarianos, Marici recomenda um Gefüllte Melanzani, prato servido no restaurante El Greco, com uma variação de legumes com queijo gratinado, acompanhado de batatas, molho de tomate e um molho grego chamado Tsatsiki, que custa 14 Euros.

Em Linz, Marici encerrou a viagem de bicicleta às margens do Danúbio. “Se tivesse que escolher uma palavra que definisse essa cicloviagem, seria ‘emocionante’. Emoção ao encontrar pessoas para partilhar caminhos, emoção ao estar só e agradecida a Deus por estar viva (tem gente que está morto e não sabe!), emoção pela oportunidade de conhecer novos mundos, emoção ao errar e acertar caminhos, emoção ao encontrar um lugar para dormir (principalmente a preço acessível!!) e por aí afora!!”, comentou Marici, ao saborear uma merecida “Linzer Torte” de despedida.

Trem, um Capítulo à Parte

Marici diz que sempre fica tensa quando precisa pegar o trem de bicicleta, pois sempre prevalece a Lei de Murphy: Se você achar que o vagão de bicicleta é o primeiro, ele com certeza será o último e você vai ter que correr até o outro lado e vice-versa. Se tiver outros ciclistas na plataforma, pergunte se eles sabem onde vai estar o vagão de bicicleta, pois muitas vezes eles sabem. De qualquer forma, o mais prudente é ficar no meio. Se não tiver elevador de acesso as plataformas, não tem outro jeito a não ser tirar toda a bagagem da bike para descer escada abaixo e escada acima. Aproveite e deixe a bicicleta “pelada”. Se o trem que você for pegar for dos antigos, ele vai ter três degraus bem altos e vai ser complicado você levantar a bicicleta para embarcar. Você escolhe: entra no trem com os alforjes primeiro e a bicicleta depois ou vice-versa.

Dizem que o maquinista fica olhando se todos embarcaram, mas dá um frio na barriga só de imaginar a sua bicicleta acenando adeus da plataforma.

Nos vagões de bicicletas há dicas da Allgemeinen Deutschen Fahrradclub (ADFC), que orientam os ciclistas a oferecer ajuda aos demais ciclistas que estão embarcando, deixar viajantes sem bicicleta saírem primeiro, perguntar aos demais ciclistas quem vai desembarcar primeiro para, na medida do possível, arrumar as bicicletas de forma a facilitar o desembarque, permanecerem próximos à sua bicicleta por toda a viagem e a retirar os seus alforjes da bicicleta antes de embarcar.

NUNCA viaje sem o ticket. A multa é de 40 Euros sem exceção e a fiscalização é intensa. Não se esqueça de comprar o ticket da bicicleta à parte. Aliás, as máquinas automáticas são um pouco complexas de se usar. Peça ajuda sempre. Os alemães são prestativos e ajudam de boa vontade.

Mais informações: http://pedalnodanubio.blogspot.com/

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