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Estrada Real - Foto: Divulgação

Estrada Real: belas trilhas pelos caminhos do ouro

Um mergulho na história dos caminhos do ouro e do diamante na época do Brasil-Colônia. A Estrada Real passa por 177 municípios. Confira!

Texto: Mariana Postali

Na Estrada Real, a aventura é garantida. Em cada caminho, uma nova descoberta: vilas, igrejas, cachoeiras, montanhas, grutas e rios compõem um dos mais importantes patrimônios culturais e naturais do planeta. Para os olhares mais atentos, pontes de pedra, ruínas, chafarizes, evidenciam as marcas deixadas pelo período colonial.

A Estrada Real, nos dias de hoje, é a reunião dos vários caminhos construídos no Brasil–Colônia, principalmente no século XVII, para o transporte das riquezas do interior do Brasil para o litoral do Rio de Janeiro, donde era transportado para a metrópole portuguesa.

São 1.512 km que permitem mergulhar na história brasileira. Uma oportunidade única de viver as experiências que bandeirantes, tropeiros, oficiais e outros viajantes encontraram na Estrada Real.

A circulação de pessoas, mercadorias, ouro e diamante era obrigatoriamente feita por eles, constituindo crime de lesa-majestade a abertura de novos caminhos.

A Estrada Real foi criada pela Coroa portuguesa no século XVII com a intenção de fiscalizar a circulação das riquezas e mercadorias que transitavam entre Minas Gerais – ouro e diamante – e o litoral do Rio de Janeiro – capital da colônia por onde saíam os navios para Portugal.

O nome Estrada Real passou a aludir, assim, àquelas vias que, pela sua antiguidade e natureza oficial, eram propriedade da Coroa metropolitana.

A grande importância das vias fez nascer inúmeras vilas e cidades. Esses povoados à beira do caminho, com o cruzeiro, a capela, o pelourinho, o rancho de tropas, a venda, a oficina e as casas de pau-a-pique simbolizaram, durante longo tempo, o processo de nucleação urbana do centro-sul da colônia.

Mas com o fim desse ciclo econômico e com a industrialização, o caminho ficou por muito tempo esquecido, o que ajudou na sua conservação e possibilitou hoje o surgimento de vários projetos de recuperação para explorar seu potencial turístico.

Hoje, a Estrada Real é formada por 177 municípios, sendo 162 em Minas Gerais, 08 no Rio de Janeiro e 07 em São Paulo. A união desses destinos reuniu atrativos de sobra para uma longa viagem. São construções coloniais, igrejas, museus, reservas ecológicas, esportes de aventura, estações de águas minerais, culinária mineira e, principalmente, nossa história.

Não pense que a Estrada já nasceu com toda essa extensão. Foi a união de três caminhos surgidos em momentos diferentes que deram origem ao que ela é hoje: o Caminho Velho, o Caminho Novo e a Rota dos Diamantes.

Caminho Velho, o Caminho Novo e a Rota dos Diamantes

Atualmente, a Estrada Real em Minas Gerais apresenta quatro eixos principais, caracterizados por sua constituição em períodos históricos distintos: o Caminho Velho, inaugurado pelos bandeirantes, que ligava a capitania de São Paulo às minas de ouro; o Caminho Novo, instituído pelo Coroa Portuguesa, que ligava o Rio de Janeiro à Vila Rica; o Caminho dos Diamantes, instituído pela Coroa como caminho oficial de Vila Rica ao distrito de Diamantino; e o Caminho da Bahia, importante via que possibilitava o trafico de mercadorias oriundas da Bahia.

Caminho Velho

As expedições originárias de São Paulo cruzavam a serra em direção ao interior do continente, traçando o antigo caminho para as minas, criando roças e pousos, que auxiliavam na empreitada. A tática utilizada era simples, mas eficiente, e fora herdada dos indígenas: os bandeirantes ao se embrenharem nas matas, plantavam pequenas roças em campos abertos, para que, ao retornarem, pudessem ter suprimento para finalizar a jornada.

O caminho geral do sertão (como ficou conhecido o antigo caminho dos paulistas) foi o caminho tomado por Fernão Dias Paes em sua ultima expedição, entre 1674 e 1681. Ele ligava São Paulo de Piratininga às vilas do vale do Paraíba – Mogi, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá, atravessava a serra da Mantiqueira cruzando o rio Grande no seu trecho oriental à região do rio das Velhas. Posteriormente, com a descoberta do ouro nas bacias do rio das Velhas, do rio Doce e no rio das Mortes, este caminho passou a ser utilizado intensamente pelos aventureiros.

Este caminho foi de importância primordial nos primeiros momentos de expansão do povoamento para o interior da região sudeste. Ele refletiu em seus traçados a onda de procura de riquezas que inflamava a colônia naquele momento. Na verdade não havia um caminho único e sim uma rota onde algumas trilhas confluíram.

O caminho foi intensamente percorrido tanto por mineradores quanto por mercadores que abasteciam as minas de suprimentos ao longo dos anos, bem como para o escoamento da produção aurífera. Ele só foi suplantado pelo novo trecho da Estrada Real que permitiu um acesso mais rápido e confortável às minas.

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Foto: Iphan/Inst. Estrada Real/Prefeitura de Lorena

Caminho Novo

Em 1698, a Coroa Portuguesa decidiu abrir um novo caminho para a região das minas, ligando-as à baía do Guanabara. Este caminho ficou conhecido como Caminho Novo. Até então, a única via de acesso para os sítios auríferos, partindo do Rio de Janeiro, era via Paraty. Desembarcando em Paraty, o viajante escalava a Serra do Mar, passava por Facão, hoje município de Cunha (SP). Rumo à Serra da Mantiqueira, alcançava Guaratinguetá e a Garganta do Embaú. Vencida a serra, seguia em frente até alcançar Baependi, Carrancas, São João Del Rei, hoje à bucólica Tiradentes, e seguia até alcançar os arraiais de Antônio Dias e do Ouro Preto.

Antes mesmo da virada do século, tiveram início os trabalhos de abertura da grande picada. Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias Paes, foi o encarregado da empreitada. Por volta de 1707, a obra seria concluída a duras penas. Muitas críticas foram feitas a respeito do trecho da Serra do Couto, próximo à atual cidade de Petrópolis, devido à sua quase inviabilidade e falta de segurança. Entretanto, as tropas e os viajantes continuavam a encarar o novo caminho, pois a economia no tempo de viagem era significativa. O caminho ficou conhecido também como Estrada Real ou, ainda, Estrada da Corte.

Por volta de 1720, a coroa Portuguesa determinou exclusivamente o transporte do ouro oficial pelo Caminho Novo. Dentre as medidas tomadas, decidiu-se a construção de um atalho que substituísse o trecho inviável da Serra do Couto. O projeto previa a substituição do trecho entre o Rio Piabanha e a Baía do Guanabara por um caminho mais rápido e praticável. Esta variante, concluída em 1725, ficou conhecida popularmente como Caminho do Inhomirim, Caminho da Estrela ou Caminho do Proença. O nome oficial era Atalho do Caminho Novo. Este atalho foi habilitado, então, como caminho Geral do Ouro e tinha início no cais dos Mineiros, hoje a Praça XV na cidade do Rio de Janeiro.

Muitas dessas cidades, na época, não passavam de fazendas ou povoados que com o Caminho Novo se transformaram. Foi percorrendo esse caminho, pouco antes de proclamar a independência, que D. Pedro I se encantou com o lugar e decidiu comprar a então fazenda do Córrego Seco, dando origem à cidade imperial de Petrópolis.

Rota dos Diamantes

O aparecimento desta nova rota para as minas de diamantes, mas ao norte do Estado, aconteceu quase duas décadas mais tarde do que aquela que ligava São Sebastião do Rio de Janeiro à Vila Rica. A nova rota tinha característica econômica e importância histórica próprias.

A descoberta de diamantes na região do serro Frio e do Tijuco logo tornou o caminho de acesso uma das vias regionais mais destacadas da capitania. Por ela se chegava, a partir de Vila Rica, à região que produzia as pedras preciosas mais cobiçadas na época.

Projeto de Preservação

Ações têm sido desenvolvidas para que se possa recuperar e conservar o que restou das antigas vias, garantindo a preservação do patrimônio histórico existente no seu leito e no seu entorno e preparando-a para se tornar um produto turístico.

Para saber mais acesse:


Uma estrada, seu destino | Estrada Real (institutoestradareal.com.br)

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