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Texto: Airton Ortiz
Cambará do Sul, pequena cidade de origem campeira, com casas de madeira e 7.000 habitantes, e situada a 980 metros acima do nível do mar, abriga algumas das paisagens mais fascinantes e misteriosas do país. Ela foi povoada a partir da doação de 20 ha de terras feita à Igreja por Dona Úrsula Maria da Conceição, em 17 de abril de 1864, como pagamento de uma promessa ao padroeiro São José. Atualmente, suas principais atividades econômicas, além do turismo, são a indústria de madeiras e celulose, pecuária, agricultura e apicultura.
A floresta nativa da região propicia uma imensa variedade nectarífera, transformando o município no maior produtor nacional de mel. Além da quantidade, o produto é de excelente qualidade, dando à Cambará do Sul o título de Capital do Mel. Característica que também está presente em seus habitantes, pacatos e alegres moradores que preservam costumes e tradições através dos seus grupos folclóricos, danças tradicionalistas gaúchas e comidas típicas.
Situada no nordeste do Rio Grande do Sul, está a 186 km de Porto Alegre e 148 km de Caxias do Sul, encravada na parte superior dos extensos e frios Campos de Cima da Serra, região geográfica gaúcha que termina “de repente” – “cortada a fio de faca”, como imaginavam os antigos moradores da região -, formando penhascos e cânions de quase mil metros de profundidade, e descendo ao nível do mar, já então no Estado de Santa Catarina. Nesse cenário, onde a natureza surpreende a cada olhar, está o Parque Nacional Aparados da Serra, que abriga o Itaimbezinho, mais conhecido cânion brasileiro.
A região possui também grande valor histórico, pois na metade do século XIX foi um dos cenários mais importantes da Guerra dos Farrapos, abrigando personagens como Giuseppe Garibaldi e sua mulher Anita. Também serviu de caminho para os tropeiros, que conduziam cavalos e mulas da região das Missões, na fronteira com Argentina, até São Paulo e Minas Gerais.
Na região de Cambará do Sul, além do Parque Nacional Aparados da Serra existe também o Parque Nacional da Serra Geral (sem infra-estrutura), com três cânions: Fortaleza (23 km, acessível de carro), Malacara e Churriado (acessíveis apenas após uma longa caminhada pelo campo nativo), além de uma série de outros passeios, como o Passo da Ilha (41 km), Lajeado do Camisa (10 km), Cachoeira dos Venâncios (17 km) e o santuário Nossa Senhora do Caravággio (4 km).
A grande atração do parque são as caminhadas que podem ser feitas em volta da borda do cânion, repleto de quedas-d’água, e chegar bem próximo do penhasco, com boa segurança. A mais popular, conhecida como Trilha do Vértice, e que não necessita do auxílio de guias, dura 45 minutos. Parte do Centro de Visitantes e vai até o vértice – onde inicia o cânion -, contorna o precipício e segue pelo outro lado, ficando de frente para a cachoeira Véu de Noiva, cuja queda d’água despenca 720 m livres em direção ao fundo do abismo. Neste mesmo passeio avista-se também, mais ao fundo, a cachoeira do Tigre Preto.
A trilha segue próxima ao penhasco, mas o caminho é bem sinalizado, além de ser protegido por uma corda de aço. Existe uma longa picada por dentro do mato, sempre pela borda do cânion. Nos pontos em que a mata fica mais rala, tem-se belas vistas dos paredões brancos do outro lado da fenda.
Outra caminhada também muito popular, mas que precisa ser feita com o auxílio dos guias (aqui chamados condutores, ao custo de R$ 3,00 por pessoa) é a Trilha do Cotovelo do Macaco. Passa pelo arroio Perdiz, cachoeira Véu de Noiva e culmina com a vista clássica do Itaimbezinho. Dura cerca de 4 horas. Percorre uma boa extensão do cânion, levando a um ponto onde se pode ver a cidade de Torres, bonita praia do litoral gaúcho.
Na parte baixa do parque, na cidade de Praia Grande, há a trilha do Rio do Boi. São 7 horas de caminhada avançando pelo interior do cânion, somente indicada para pessoas com prática em trekking, uma vez que a maioria do percurso é feita em pedras e travessias do rio. Os rapeis e a travessia, que exerciam grande fascínio sobre os visitantes mais radicais, estão proibidos desde que o parque foi oficialmente aberto ao público.
Para quem sai de Porto Alegre, seguir pela BR 101 até Novo Hamburgo, quando se deve tomar a estrada para Taquara. Depois seguir pela rodovia RS-020, em direção à São Francisco de Paula, Tainhas e Cambará do Sul (apenas os últimos 10 km não são asfaltados). Uma boa dica é visitar o templo budista em Três Coroas, no caminho para São Francisco de Paula, apenas 5 km da estrada principal.